terça-feira, 12 de janeiro de 2021

12 de JANEIRO 2021 - Décimo segundo dia da terceira década do terceiro milénio

O Famoso Lustre do musical Fantasma da Ópera (Broadway)

E se o célebre lustre caísse verdadeiramente do teto do Teatro Majestic e atingisse grande parte da plateia, transformando ficção em realidade? O Fantasma da Ópera transformaria a Broadway da noite para o dia, causaria o Caos na emblemática zona de Midtown Manhattan, essa gigantesca e emblemática parcela da cidade que nunca dorme. Nova Iorque é uma cidade densa e esquizofrénica. Nova Iorque é uma cidade onde se pode encontrar tudo aquilo que se possa imaginar, desde pseudo-poetas a aspirantes a poetas, não poetas, poetas de faz de conta, poetas que ainda não imaginam que o são, poetas anónimos, poetas ricos, poetas pobres e, em menor número, poetas de verdade. Poetas que resolvem escrever porque não conseguem ficar quietos com a vida, com aquela parte da vida que custa atravessar, aquele deserto enfurecido, angustiante, quente, claustrofóbico, apinhado de gente desinteressante.

O teatro pega fogo, os espetadores gritam ao tentar escapar da tragédia causada pelo Fantasma. A 44ª avenida fica apinhada de gente que foge ao desastre ao mesmo tempo que um Picasso na Christies é arrematado por cento e sessenta milhões de dólares. Os poetas, quase todos os poetas da cidade, choram lágrimas de crocodilo por não compreenderem a poesia daquela pintura acabada de vender. Nem o espanhol que a pintou consideraria possível tamanha arrogância. Como é que alguém teve a ousadia de pagar um preço daqueles pela sua arte? E depois há o barulho permanente das sirenes e dos helicópteros e dos automóveis e dos táxis amarelos e das multidões de pessoas apressadas nas avenidas perpendiculares umas às outras, menos a Broadway. Ali, em plena Midtown, podemos facilmente imaginar Sinatra a cantar em Times Square, antes, durante e depois do icónico descer da Bola Iluminada em noite de fim de ano.

O Fantasma deixa entrar os sem-abrigo nova-iorquinos para o interior do Majestic semi-destruído. O fogo foi extinto com alguma facilidade, mas nesta noite já não haverá espetáculo, o teatro não está em condições. Já nada está em condições na grande Maçã, está tudo partido, tudo a necessitar de arranjo, serão meses, anos de restauro, e agora existem até painéis de mosaicos com cães a embelezar algumas estações de metro da cidade.

E agora, pela primeira vez desde que New York se recorda de ser metrópole, a cidade adormeceu de tristeza por causa do maldito Covid! Que saudades das tardes e das noites em que o famoso lustre descia descontrolado do teto do Majestic para gáudio dos seus espetadores, que saudades...

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