sábado, 21 de julho de 2007

Instantes

Ao passar uma vista de olhos pelo jornal DESTAK de 17 de Julho, li este artigo de Luísa Castel-Branco que prometi a mim mesmo publicar aqui neste meu Blog. Vale a pena.
Mais uma questão de Educação, ou não será?

Gente só,
sem infinito


Um rapaz novo, na casa dos trinta, está
sentado na esplanada rodeado por três
crianças. O mais velho não tem mais de
seis anos e a mais pequena ainda mal
anda. O pai está a brincar com ela, mas
os outros dois filhos correm cada um
para o seu lado e ele olha, desesperado,
sem saber para onde ir primeiro.
Chamou-os e não resulta. O apelo do lago do
jardim é mais forte e ele pega ao colo na
filha, que chora porque quer levar o boneco
que está em cima da mesa, deixa
os jornais e a carteira, e desata a correr
no encalço dos irmãos. Quando retorna,
vem esbaforido e os miúdos choram
em uníssono. Tem uns olhos tristes, este
rapaz. Já antes o vi aqui, na esplanada
do Jardim da Estrela, entre sorrisos babados
e aquele ar entre o assustado e
o cansado. Deve ter-se separado recentemente,
penso para mim mesma. São
fáceis de detectar estes pais de fim-de-
-semana – e são cada vez mais. Não
deixo, nunca, de ficar triste, também eu,
perante este quadro. Porque dói a todos.
Ao casal que se aparta, às crianças que
vêem o seu mundo desabar, ainda que
vivam rodeadas por muitos meninos
na mesma circunstância. Vinicius escreveu
«O amor não é eterno, posto que é
chama, mas que seja infinito enquanto
dure». O infinito é cada vez mais curto.
Pode ser mais intenso, pode até acontecer
que hoje se possa amar mais vezes.
Mas o que vejo é gente só e infeliz, numa
altura da vida em que ainda se devia
estar a viver o sonho do infinito.

Por Luísa Castel-Branco
17 de Julho de 2007

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